segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A CRISE NO CASAMENTO E AS REAÇÕES DOS FILHOS DIANTE DO FIM DO CASAMENTO/RELACIONAMENTO DOS PAIS



A CRISE NO CASAMENTO E AS REAÇÕES DOS FILHOS DIANTE DO FIM DO CASAMENTO/RELACIONAMENTO DOS PAIS
Você já parou para refletir sobre a experiência de sua separação sob a perspectiva do seu filho?
Uma pergunta muito importante para o início dessa reflexão:
Você visualiza alguma mudança que seu filho já enfrenta ou enfrentará diante da sua separação?
Perda ou redução do contato com a mãe ou com o pai que saiu de casa, mudança de casa, de escola, queda no padrão de vida, o novo casamento de um dos pais, ou dos dois pais, e o ajustamento aos novos membros da família são algumas das mudanças que os filhos costumam experimentar diante da separação dos pais.
As mudanças causadas na vida dos filhos em razão da separação dos pais, ainda que consensual, podem gerar desconforto, especialmente porque eles precisam de rotina e de segurança para se sentirem bem e se desenvolverem emocionalmente saudáveis.
Os filhos podem apresentar reações típicas ao fim da convivência dos pais dependendo de sua idade.
Crianças muito jovens não podem verbalizar seus sentimentos, mas elas podem sentir e ser afetadas pelas mudanças na família, sofrendo forte estresse psicológico.
DO NASCIMENTO AOS 2 ANOS
As 3 (três) causas centrais do estresse psicológico na criança de até 2 (dois) anos são:
• rotinas diárias imprevisíveis;
• hostilidade entre os pais;
• estresse emocional do pai ou da mãe (especialmente o pai ou a mãe responsável pelo cuidado diário da criança).
O conflito parental contínuo é irritante para o seu filho pequeno, que
não consegue entendê-lo e pode considerá-lo como rejeição pessoal.
Retrocesso ou indiferença, se não estiver relacionado a alguma causa
física (ex: doença), é um sinal provável de que a criança está estressada,
uma forma básica e primitiva de desligar as coisas que são dolorosas.
Regressão – a perda de uma habilidade desenvolvida – pode indicar que
uma criança jovem está tendo dificuldade de assimilar os fatos em sua
vida.
Seguem algumas das habilidades que as crianças pequenas, de até 2(dois) anos, estão trabalhando, com exemplos de regressão sob estresse:
COMIDA
• recusar comidas que antes ela gostava;
• voltar a usar a mamadeira ou querer mamar no peito após já ter desmamado.
CONTROLE EMOCIONAL
• chorar mais intensamente que o normal sobre algo pequeno ou sem motivo aparente;
• ficar frustrada com mais facilidade. Por exemplo, gritar quando a torre de blocos que acabou de construir cai.
INDEPENDÊNCIA
• chorar compulsivamente quando um dos pais deixa o local onde ela se
encontra;
• ficar ansiosa e tímida com a cuidadora, em vez de confortável e segura.
LINGUAGEM
• começar a chorar ou apontar em vez de tentar dizer o nome do objeto;
• trocar as palavras pela linguagem de bebê já ultrapassada, como “bo” em vez de “bola”.
SONO
• recusar-se a dormir;
• dormir mais tarde ou ter pesadelos.
USO DO BANHEIRO
• fazer xixi ou cocô na calça em vez de usar o banheiro.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
• estabeleça rotinas diárias constantes que incluam uma programação diária previsível;
• esforce-se para diminuir a hostilidade entre você e o pai ou a mãe de seu filho, especialmente na presença da criança;
• cuide de sua própria saúde física e emocional para que você possa prover o máximo de estabilidade e suporte possível, especialmente se você for o responsável pelos cuidados diários de seu filho. Procure ajuda, se necessário, para trabalhar a raiva, a depressão e outras emoções dolorosas.
DOS 3 (TRÊS) AOS 5 (CINCO) ANOS
As crianças nessa faixa etária podem apresentar:
• medo de serem rejeitadas ou abandonadas: elas podem temer que se a mãe e o pai pararam de se amar, eles também podem parar de amar os filhos. Elas podem acordar no meio da noite chorando e implorando para ir para a cama do pai ou da mãe;
• confusão ou ideia errônea sobre o divórcio dos pais: elas podem sentir-se culpadas pelo divórcio, achando, por exemplo, que se não tivessem feito muita bagunça, os pais não teriam se divorciado. Elas podem se esforçar em ser “boas”, achando que os pais se divorciaram porque elas foram “más”, e que se elas ficarem “boas” os pais vão ficar juntos novamente. A crença de que elas causaram o divórcio dos pais pode demorar um pouco para passar. É muito importante que você diga para o seu filho, várias vezes, que o divórcio não foi culpa dele;
• regressão para etapas anteriores no seu processo de desenvolvimento: é uma resposta comum para a ansiedade ou tristeza. As crianças podem voltar a usar cobertorzinhos de segurança ou brinquedos de bebês e podem eventualmente fazer xixi nas calças, mesmo já tendo abandonado as fraldas há algum tempo;
• aumento do comportamento agressivo nas brincadeiras e nos relacionamentos, em casa e na escola, especialmente se elas testemunham o conflito e a agressão dos pais;
• necessidade de serem tranquilizadas: as crianças podem chorar, lamentar, procurar contato físico, alimentos, ou proteção em todos, incluindo estranhos, para se sentirem tranquilizadas;
• medos e fantasias perturbadoras: crianças nessa idade não conseguem entender bem os acontecimentos confusos nas suas vidas e acabam fantasiando sobre eles. Elas podem fantasiar estar com fome, o que está associado ao medo de serem abandonadas. Elas podem sentir que serão substituídas e se preocupam que a mãe ou o pai já envolvido em novo relacionamento possa amar a nova pessoa mais do que elas. Elas podem ter medo de ir para a cama e se recusar a ficar sós por poucos minutos.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
• ajude o seu filho dando-lhe estrutura e criando um ambiente estável e
saudável. Respeite os medos de seu filho. Não o ridicularize. Reafirme para seu filho que ele é amado, será sempre cuidado pelos pais e não foi o responsável pelo divórcio;
• para ajudar o seu filho a recuperar a autoconfiança, dê-lhe suporte e apoio e não castigos e punições;
• explique claramente para seu filho quem irá tomar conta dele e quando você voltará a vê-lo após o trabalho ou alguma saída. Crianças nessa faixa etária podem precisar de ajuda extra e reafirmações sobre o divórcio;
• dê uma atenção especial ao seu filho. Ele se sentirá mais seguro;
• estabeleça, com a ajuda de seu/sua ex, regras claras e rotinas consistentes para seu filho nas duas casas. O seu filho pode ficar confuso se as regras e as rotinas forem muito diferentes na casa do pai e na casa da mãe.
DOS 6 (SEIS) AOS 8 (OITO) ANOS
As crianças nesta faixa etária podem apresentar:
• muita tristeza e sofrimento. Chorar é comum. A criança pode ter consciência de sua tristeza e achar difícil obter alívio;
• saudades do pai ou da mãe que deixou a casa. Muitas crianças se sentem abandonadas e rejeitadas pelo pai ou pela mãe que saiu de casa e esse sentimento pode ser muito forte;
• raiva da mãe ou do pai que continuar morando com elas, por terem a percepção de que ela ou ele foi responsável pela saída do outro genitor de casa;
• fantasias de que os pais voltarão a viver juntos. Algumas crianças ainda
acreditam nessa fantasia mesmo após um dos pais se casar novamente;
• dilemas de lealdade. Quando há pressão dos pais para que as crianças tomem partido entre eles, elas são geralmente incapazes de fazer isso. Elas continuam tentando ser leais para ambos os pais, frequentemente em segredo, e geralmente mediante muito sofrimento;
• sintomas físicos, como problemas para dormir ou queixas de dores de estômago ou dores de cabeça.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
• uma das coisas mais importantes que você pode fazer pelas crianças nesta faixa etária é encorajá-las a terem bom relacionamento com o pai ou a mãe, se isso for seguro, e não forçá-las a tomar partido. Mantenha as crianças fora dos conflitos relativos à guarda, às visitas, aos alimentos, à partilha de bens etc.;
• crianças de todas as idades, mas, especialmente, desta faixa etária, precisam ser protegidas da raiva e da decepção dos pais. As crianças não devem ser pressionadas a tomar partido. Evite criticar o/a ex na frente de seu filho. O que ele mais precisa nesse momento é a confirmação por parte do pai e da mãe de que eles ainda o amam e continuarão presentes. Ele deve saber que mesmo que um dos pais tenha saído de casa, eles ainda poderão estar juntos;
• crianças nesta idade não se dão bem com ausência prolongada de um dos pais e, por isso, precisam ter acesso aos pais frequentemente, se for seguro, claro. Os pais também devem dar às crianças respostas concretas às dúvidas delas sobre o divórcio e sobre quem tomará conta delas.
DOS NOVE AOS DOZE ANOS
As crianças nesta faixa etária podem apresentar:
• indiferença ao divórcio: é uma forma de lidar com os seus fortes sentimentos;
• raiva consciente e intensa: serve para aliviar momentaneamente sentimentos fortes como tristeza e desespero;
• abalo no senso de identidade: já que elas dependem de ambos os pais para terem um senso de identidade, podem se sentir diferentes das outras crianças cujos pais estão juntos;
• sintomas físicos como dores de cabeça, de estômago, câimbras nas pernas ou ataques de asma intensos;
• tomar partido e colocar-se ao lado de um dos pais pode ser um problema real para as crianças nesta faixa etária, que são particularmente vulneráveis e podem ser contaminadas pela raiva de um genitor contra o outro. Forçar as crianças a tomar partido ou a rejeitar o pai ou a mãe pode sobrecarregá-las emocionalmente e lhes trazer muitos prejuízos;
• maior envolvimento com os amigos, a escola, os esportes ou outras atividades. Este é geralmente um bom sinal e deve ser encorajado.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
• permita que seu filho se envolva com atividades escolares e esportivas;
• não transfira os cuidados com os irmãos menores, os afazeres domésticos ou as responsabilidades quer eram de seu/sua ex para seu filho;
• permita que seu filho tenha um relacionamento com o pai ou a mãe, se isso for seguro, e não o pressione a tomar partido. Lembre-se: o direito de amar o pai e a mãe é o maior presente que você pode dar ao seu filho, independentemente da idade dele;
• estabeleça regras e expectativas consistentes entre as duas casas, se isso for seguro e possível. Será mais fácil manter essas regras na adolescência se elas forem estabelecidas agora;
• evite ou reduza os conflitos na presença de seu filho. Preserve seu filho da raiva que você possa ter contra o pai ou a mãe dele;
• reduza o impacto dos conflitos ao seu filho mostrando-lhe que ele pode amar ambos os pais. Você pode fazer isso encorajando seu filho a se comunicar constantemente com o pai ou a mãe e ajudando-o a dar presentes ou cartões ao pai ou à mãe em ocasiões especiais, como aniversários, feriados e Dia dos Pais e Dia das Mães.
• Diga ao seu filho que o pai ou a mãe dele o ama e também tem qualidades. E certamente você já viu qualidades no seu/sua ex, tanto que se casou com ele/ela. Não deixe a sua raiva e a sua decepção com o fim do casamento obscurecerem as qualidades de seu/sua ex, que ainda existem. Elogie seu/sua ex para seu filho. Isso o deixará orgulhoso do pai e da mãe.
DE TREZE A DEZOITO ANOS
Os adolescentes podem apresentar:
• Depressão.
• Ansiedade diante da incerteza do futuro. Como o divórcio dos pais ocorreu em uma idade em que os adolescentes preocupam-se em serem amados e aceitos, eles podem sentir-se ansiosos com a incerteza sobre o futuro, achando que estão condenados a relacionamentos conflituosos.
• Comportamento sexual ativo. Às vezes, os adolescentes podem se tornar ativos sexualmente, principalmente se eles vêm que os pais encontraram novos parceiros sexuais. Isso pode ocorrer se os pais estabeleceram poucos limites ou deram pouca atenção para o comportamento dos filhos. Se os adolescentes sentem que as regras morais que eles aprenderam foram deixadas de lado, eles
podem apresentar um comportamento sexual mais ativo.
• Lamento, profundo senso de perda, sentimentos de vazio e fatiga. Os
adolescentes podem sentir a perda de duas formas: como uma perda da família que não vai mais estar disponível para eles porque um dos pais deixou a casa, e uma perda da família porque eles estão crescendo.
• Raiva. Alguma raiva é relacionada com a própria idade e alguma serve para cobrir sentimentos de vulnerabilidade e fraqueza. Os adolescentes geralmente têm raiva de seus pais por serem egoístas e não terem consideração por escolherem se divorciar nesta fase da vida deles.
• Mudança da percepção sobre os pais. Os adolescentes podem perceber um genitor como vulnerável e dependente, e o outro como forte e invulnerável. Os adolescentes podem acrescentar julgamentos morais a essas percepções, acreditando, por exemplo, que a vulnerabilidade é má. Os adolescentes que perceberam uma falha ou uma fraqueza em um dos genitores podem exagerar aquela falha ou fraqueza e ver o outro genitor como maltratado ou martirizado.
• Dilemas de lealdade. Quando os pais exigem que seus filhos escolham lados, os filhos podem se sentir culpados, desesperados e deprimidos.
• Maior maturidade e crescimento moral. Muitos adolescentes tentam aprender pelos erros dos pais como serem pessoas melhores e adultos mais maduros e procuram padrões para os seus próprios comportamentos.
• Preocupações com o dinheiro. Adolescentes podem ficar ansiosos sobre se haverá dinheiro suficiente para as suas necessidades futuras, como despesas com a educação.
• Mudança de papeis na família. Alguns adolescentes assumem responsabilidades em casa, ajudando nas tarefas domésticas e cuidando dos irmãos menores. É importante, entretanto, que o adolescente tenha tempo e permissão para viver a sua própria vida além das responsabilidades familiares.
• Distanciamento dos pais. Como parte do processo de crescimento, é natural que os adolescentes comecem a se afastar de seus familiares e se preparem para a independência, tornando-se muito ativos e permanecendo longe de casa. Entretanto, para alguns adolescentes o afastamento pode ser uma forma de escapar da crise e das brigas dos pais para se preservar de sentimentos devastadores.
• Aproximação dos amigos. Os amigos são considerados como “refúgios” por darem um sentido de estabilidade aos adolescentes.
• Comportamentos de risco e delinquência. Alguns adolescentes podem se tornar rebeldes e apresentar comportamentos tidos como antissociais.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
• Mantenha uma programação flexível, se possível, para conciliar os interesses de seu filho adolescente e o convívio com o pai e a mãe. O contato frequente com ambas as casas pode ser difícil se o adolescente tiver outros interesses. Mas é importante que tanto o pai como a mãe estejam envolvidos na vida dele.
Por isso, uma programação flexível pode ser proveitosa para todos.
• Monitore as atividades e o comportamento de seu filho adolescente. Estabeleça limites. Nesta fase difícil de suas vidas, os pais podem acabar afrouxando os limites de que os adolescentes necessitam. Isso torna o adolescente ansioso e com mais facilidade para adotar um comportamento inadequado. Portanto, os pais devem se unir para monitorar as atividades do filho adolescente.
• Proteja seu filho da exposição à sua sexualidade. Quando os pais começam novos namoros muito rapidamente e contam os detalhes para os filhos adolescentes, estes ficam geralmente confusos.
• Preserve seu filho de seus conflitos com o pai ou a mãe dele. Os filhos desta idade podem parecer maduros o suficiente para se envolverem na briga dos pais. No entanto, eles são extremamente vulneráveis e tendem a culpar e
rejeitar o pai ou a mãe que eles costumavam amar. Embora isso possa parecer
gratificante para o pai ou para a mãe cujo lado o adolescente tenha tomado, isso não é bom para o desenvolvimento saudável dele.
• Essas são, portanto, as reações comuns apresentadas pelos filhos ao divórcio dos pais. Alguns filhos podem apresentar todas essas reações, somente algumas delas ou nenhuma delas.
Oficina de Pais e Mães - CNJ